João Costa realiza festa de grande porte em meio à seca e decreto de emergência

Enquanto o Governo do Estado reconhece oficialmente que João Costa vive uma das piores estiagens dos últimos anos, decretando situação de emergência por seca por meio do Decreto Estadual nº 23.699/2025, a Prefeitura Municipal se prepara para promover uma das maiores festas do ano: os Festejos de Nossa Senhora Aparecida 2025.
O evento, marcado para os dias 9, 10 e 11 de outubro, contará com grande estrutura, ornamentação especial e shows de artistas de renome nacional, como Washington Brasileiro, Brasas do Forró e Moleca 100 Vergonha. Serão dias que se buscam alegria e animação, mas que, neste momento, soam como um grande contraste diante da dura realidade vivida pelo homem e pela mulher do campo.
Contradição com a realidade do município
O contraste é evidente. Desde abril, João Costa está incluído no Decreto Estadual nº 23.699/2025, que declara situação de emergência em 129 municípios piauienses por causa da seca verde, um fenômeno que vem castigando o semiárido piauiense com chuvas irregulares, altas temperaturas e poços secos
Na zona rural, animais agonizam sem pasto nem água, e famílias enfrentam falta de abastecimento, dependendo de carros-pipa para sobreviver. Ainda assim, a Prefeitura decidiu investir em uma festa de alto custo, com bandas que costumam cobrar cachês expressivos, estrutura de palco e ornamentação completa.
O povo merece festa — mas também prioridade
Não se trata de negar o valor da cultura e do lazer. O povo merece festa, alegria e momentos de confraternização. Mas em tempos de escassez e sofrimento, é dever do gestor saber priorizar.
Mesmo que parte dos recursos venha de emendas parlamentares ou de verbas específicas para eventos culturais, a administração pública tem o dever de agir com bom senso, moralidade, responsabilidade e empatia social.
Investir pesado em festas enquanto há seca reconhecida por decreto é, no mínimo, um gesto insensível e politicamente incoerente por parte da gestão municipal, comandada por Gilson Castro.
Homem do campo: o verdadeiro esquecido
Enquanto os artistas sobem ao palco e o som ecoa pela cidade, o homem do campo, que sustenta a economia local, enfrenta a realidade dura do sertão: cacimbas secas, gado morrendo e plantações perdidas.
É ele quem sente, na pele, a ausência de políticas públicas mais eficazes de combate à seca e de apoio à produção rural.
A festa vai passar. Mas o sertanejo continuará lutando — muitas vezes, sozinho — pela água, pelo sustento e pela sobrevivência.
Fé e responsabilidade devem caminhar juntas
Os Festejos de Nossa Senhora Aparecida são um símbolo de fé, tradição e esperança. Mas fé também é solidariedade e prudência. Neste momento, talvez a maior homenagem à padroeira seria cuidar do povo que sofre com a estiagem, investindo em soluções duradouras, e não apenas em palcos temporários. Porque em tempos de seca, o que o povo de João Costa mais precisa não é de fogos, mas de água. Não é de festa, mas de prioridade. A boa gestão se mede pelo cuidado com quem tem sede.