Dandô: o Sétimo Dia - Por Deusval Lacerda de Moraes

Não poderia deixar de reverenciar o popular Claudionor Paes Landim de Oliveira, o inolvidável Dandô, que ainda para seus admiradores mais entusiastas era o Dandozão de Aço, por ter sido pessoa humana e líder político ímpar. Meu amigo pessoal, cidadão que sempre me devotou especial apreço, sendo também a recíproca mais do que verdadeira.
Eu tinha 10 anos quando conheci o Dandô, ele tinha 37 anos e estava no terceiro ano do seu primeiro mandato de prefeito de São João do Piauí. Meu pai, Dico Moraes, de 35 anos, estava também na mesma condição de prefeito do recém-criado município de Paes Landim, desmembrado do então extenso território de São João do Piauí.
Em 1970 houve eleição municipal com mandato de dois anos, o que possibilitou no pleito de 1972 as candidaturas a prefeito de São João do Piauí e de Paes Landim do Dandô e do amigo Dico Moraes, respectivamente. O Dandô saiu vitorioso e meu pai derrotado.
Dico Moraes havia sido vereador em São João do Piauí, nomeado primeiro prefeito de Paes Landim, depois foi vice-prefeito e prefeito eleito, e após esse primeiro revés eleitoral permaneceu em São João do Piauí para exercer o comércio.
Com a experiência do meu pai na atividade pública, o Dandô logo o convidou para ser seu auxiliar na sua segunda gestão, secretário Administrativo, mas ele entregou a cargo três meses depois em razão do tempo integral que exigia na sua dedicada atividade mercantil.
O Dandô voltou a ser prefeito de São João do Piauí pela terceira vez e Dico Moraes voltou a ser prefeito e vice-prefeito de Paes Landim. Na vice Dico Moraes ainda assumiu a Prefeitura alguns meses com o afastamento judicial do titular.
Não era em vão que o Dandô foi homem público exponencial em São João do Piauí, porque além das características inatas de simpatia e afabilidade, tinha conduta muito magnânime e generosa com a população. Era tempo de elevada pobreza e crônico analfabetismo e o Dandô encarnava como ninguém essa identificação com o povo.
Tinha uma memória fantástica, não esquecia os fatos vividos por cada um dos habitantes. Já chegava em qualquer pessoa da cidade e do interior sabendo a sua origem e a sua história, e aí a conversa fluía com total facilidade, naturalidade.
Era o cheiro do povo. Deve-se citar que o pai Modesto e a mãe Condê formaram o filho Clício médico em Salvador, que lá ficou até falecer; formaram o filho Cleto advogado em Teresina, onde residiu também até fenecer; formaram o filho adotivo (e sobrinho) Humberto que foi juiz de Direito em Goiânia, hoje lá aposentado; o filho Clovis foi ser comerciante em Juazeiro-BA; e a filha D'Jusa professora que também foi prefeita de São João do Piauí. O Dandô ficou no convívio telúrico dos conterrâneos na terra natal.
Dandô até o fim da vida manteve a roda de bate-papo na sua casa com os amigos. Isto para ele era sagrado. E por isso a injustiça de nestes tempos de coronavírus a população de São João do Piauí não poder acompanhar o funeral, como também haverá de ser no Sétimo Dia do seu passamento.
Assim, há de destacar-se que o Dandô deixou legado político em São João do Piauí que o exercício da representação popular deve ser desempenhado sem vaidade, sem ganância ou arrogância e, o mais importante, com a consciência de o mandato pertencer inclusive ao mais simples e humilde do povo.
Por Deusval Lacerda de Moraes
